sábado, 28 de agosto de 2010

Negar Fogo

Negar fogo é Humano. Antes de pensar em atirar-se pela janela, examine a situação. Certifique-se de que não existe uma causa psicossomática para o seu fracasso, como a política económica do governo ou o facto de a sua mulher ou namorada ter aderido ao halterofilismo. Pode não ser culpa sua, ou do seu tecido eréctil. Lembre-se de que existem várias situações em que negar fogo não é só aceitável como até recomendável. Eis algumas: Vocês namoram há pouco tempo. É a 1ª vez que vão para a cama. Você acaba de tirar a calcinha dela. Descobre que ela tem "Wando" tatuado numa nádega. Ela convidou-o para o seu apartamento e recebe-o completamente nua mas com um quepe da Gestapo na cabeça e uma coqueteleira de metal numa mão. Depois você descobre que não é uma coqueteleira, é um triturador portátil. Você introduziu a sua mão sob a blusa dela e sente o mamilo quente crescer contra a sua palma. Ela beija-lhe o pescoço, depois lambe atrás da sua orelha, finalmente enconta os lábios húmidos na sua orelha e diz: - Gostas do Paulo Coelho? A porta do quarto abre-se e uma senhora gorda de chambre entra arrastando os chinelos e diz: - Não parem, não parem, eu só vim pegar uma lixa no banheiro. Quando chega o orgasmo, ela começa a bater nos seus rins com os calcanhares e a gritar os nomes dos faraós do Antigo-Egipto. Vocês decidiram transar num lugar diferente: na praia, sob as estrelas. Tiraram toda a roupa, correram pela beira do mar de mãos dadas sentindo a brisa salgada no corpo todo. Agora rolam gargalhadas pela areia até caírem numa trincheira de soldados camuflados e serem informados de que estão no meio de uma manobra militar, e é para não fazerem barulho senão vão denunciar a sua posição ao inimigo, que observa tudo o que se passa na praia com binóculos infravermelhos.

 Luís fernando veríssimo.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Flagrante na Praia

Ela (jovem, linda, sozinha) acabou de passar óleo para bronzear nos braços, depois de passar nas pernas, no colo e no rosto. Olhou em volta. A poucos metros dela, sentado na areia, um homem lia um jornal. Ninguém mais por perto. Ela examinou o homem com cuidado. Tinha aliança? Tinha. Casado. Seus trinta, trinta e cinco anos. Não era feio, apesar do nariz um pouco comprido.
Ela falou: - Por que você estava me olhando?
Ele virou-se para ela, surpreso. - Falou comigo?
- Por que você estava me olhando?
- Perdão, eu não estava olhando para você.
- Por que não? Ele riu, sem saber o que dizer.
Ela continuou: -O que você está querendo?
-Eu? Nada?
- Tem certeza?
-Eu posso lhe assegurar que...
-Nada mesmo?
-Nada. Juro.
-Você não estava imaginando que o destino deve ter nos colocado aqui, lado a lado na mesma praia, com alguma intenção? Você nem sonhou em me dirigir a palavra? Em me convidar para um programa? Em começar um caso?
-Não. Juro que não.
-Você me acha repelente?
-Não! O que é isso. É que..
Lá vem confidência, pensou ela. Ele vai me dizer que é homossexual. Ou impotente. Ou, meu deus, que a mulher dele morreu ontem! Mas ele apenas disse.
-Olhe, a última coisa que eu quero no momento é um envolvimento emocional, entende? Não me leve a mal. Você é uma garota muito atraente, mas eu simplesmente não estou a fim.
Perfeito, pensou ela. Só mais uma pergunta.
- A sua mulher está por perto?
- A minha mulher? Não.
Perfeito.
Ela levantou-se, caminhou até onde ele estava, sentou-se ao seu lado e pediu:
-Me passa óleo nas costas?

Luís fernando Veríssimo.