quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Flagrante na Praia

Ela (jovem, linda, sozinha) acabou de passar óleo para bronzear nos braços, depois de passar nas pernas, no colo e no rosto. Olhou em volta. A poucos metros dela, sentado na areia, um homem lia um jornal. Ninguém mais por perto. Ela examinou o homem com cuidado. Tinha aliança? Tinha. Casado. Seus trinta, trinta e cinco anos. Não era feio, apesar do nariz um pouco comprido.
Ela falou: - Por que você estava me olhando?
Ele virou-se para ela, surpreso. - Falou comigo?
- Por que você estava me olhando?
- Perdão, eu não estava olhando para você.
- Por que não? Ele riu, sem saber o que dizer.
Ela continuou: -O que você está querendo?
-Eu? Nada?
- Tem certeza?
-Eu posso lhe assegurar que...
-Nada mesmo?
-Nada. Juro.
-Você não estava imaginando que o destino deve ter nos colocado aqui, lado a lado na mesma praia, com alguma intenção? Você nem sonhou em me dirigir a palavra? Em me convidar para um programa? Em começar um caso?
-Não. Juro que não.
-Você me acha repelente?
-Não! O que é isso. É que..
Lá vem confidência, pensou ela. Ele vai me dizer que é homossexual. Ou impotente. Ou, meu deus, que a mulher dele morreu ontem! Mas ele apenas disse.
-Olhe, a última coisa que eu quero no momento é um envolvimento emocional, entende? Não me leve a mal. Você é uma garota muito atraente, mas eu simplesmente não estou a fim.
Perfeito, pensou ela. Só mais uma pergunta.
- A sua mulher está por perto?
- A minha mulher? Não.
Perfeito.
Ela levantou-se, caminhou até onde ele estava, sentou-se ao seu lado e pediu:
-Me passa óleo nas costas?

Luís fernando Veríssimo.

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